Se não acho justa a sua liberdade, muito menos acho justo vê-lo andando pelo meu bairro, pisando no mesmo chão que meus filhos, parentes e amigos! Ninguém disse nada, apenas lhe deram às costas. Todas as pessoas que estavam na rua, não houve uma que lhe desse algum tipo de atenção, nem a curiosidade impediu que todos se virassem ao mesmo tempo como uma coreografia ensaiada.
Eu confesso que não transitei no universo dos ciganos, mulçumanos e indianos, mas observei de longe, mas só porque eu descobri um novo mundo que ativou a minha curiosidade e que me levou a escolher acompanhar outras estórias.
Mas não é só o que ela escreve ou escreveu que mexe com as pessoas e que a levou a ser tão conhecida e comentada. Foram as suas perdas e a sua luta pela justiça também.
Eu acho que as pessoas aprendem muito mais com suas perdas do que com seus ganhos, e por isso eu acredito que toda a dor que ela carrega e que ela soube, sei lá como, administrar, faz dela uma mulher admirável, extraordinária e exemplar.
Eu não a invejo por sua experiência, eu sequer conseguiria sustentar meu olhar nos olhos dela, porque eu tenho muito, muito medo da dor que ela conhece. Eu tenho vergonha de olhar pra ela e admitir que não quero pra mim o que ela teve, o que ela viveu e sofreu. E enquanto eu escrevo tudo isso, eu rogo a Deus que não permita que esta dor me alcance jamais!
Eu não teria a força que esta mulher tem de enfrentar o mundo de peito aperto sem chorar tristeza, sem mendigar piedade, sem estender permanentemente a bandeira da desilusão. Eu não saberia fazer da perda uma luta pela justiça ou viver e ensinar a viver como ela faz.
Eu queria saber o que ela sente o que ela pensa quando se olha no espelho e como ela se sente no silêncio. Porque quando ela fala, ou melhor, quando ela escreve, demonstra uma lucidez invejável, uma dignidade incalculável, um poder de criatividade ímpar, uma força que nos puxa para a fantasia. Impressionante como ela consegue colocar todas as palavras no lugar certo na hora exata. Sua genialidade entra na casa de milhares de pessoas levando-as a encontrar um mundo que jamais encontrariam se arrumassem suas malas e viajassem pelo mundo.
Eu não saberia mais o que dizer sobre ela, porque o que eu conheço dela é apenas aquilo que sai na mídia e o que ela expõe em forma de personagens, mas, como não respeitá-la, admirá-la e invejá-la como mulher, como mãe, como escritora e novelista? Como não admirá-la por suas lutas por justiça?
Quem tem coragem de agredir Glória Perez precisa, no mínimo, aprender a ser “gente”, porque vai sofrer muito na vida, e não terá sequer vestígios da força e honra desta mulher.
E quando todos entraram para dentro de suas casas, só uma palavra ecoava em seus pensamentos: assassino!
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