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21/05/2009

Um dos meus pecados!



Ele era seminarista por imposição da mãe que fez uma promessa para que seu bebê sobrevivesse à fragilidade de seu nascimento, se ele conseguisse sobreviver seria padre. Deu a ele nome de Santo. Nos conhecemos nos corredores escuros de um colégio conceituado em BH. Colégio de Padres, cheio de mistérios, escadas que iam para lugares sombrios, lendas de túneis cheios de túmulos. Ele não queria ser padre, eu não queria que ele fosse. Namorávamos nas escadas da Igreja ao final das aulas, todos os dias, durante um ano. Conseguíamos conversar durante horas, dias, meses, sem nunca ficar sem assunto. Depois de seis meses de namoro, ele foi para casa no interior de Minas Gerais e contou para a mãe que ia largar o seminário. Sei que não foi fácil para ele, muito menos para ela e tenho certeza de que ela nunca me perdoou. Os dias corriam rápido demais, fáceis demais, felizes demais. E ele foi embora passar as férias em casa. Um mês depois, quando voltou eu já não sabia mais quem era ele, eu não reconhecia mais o que ele queria e já não mais queríamos o mesmo. Ele queria mais, muito mais do que eu podia lhe dar nos meus 16 anos de idade, eu não tinha maturidade e tinha muito medo do meu pai. Ele queria viver intensamente, aproveitar tudo o que tinha perdido nos anos de seminarista. Quando foi embora, disse que ainda gostava de mim.

Eu não soltei uma lágrima sequer. Eu fechei todo e qualquer sentimento que tinha por ele dentro de mim e simplesmente continuei a viver como se ele nunca tivesse existido. Até que um dia, a carta. Contava que estava estudando em uma cidade histórica perto de BH, que era feliz, que estava namorando, mas que sempre pensava em mim, que queria ser meu amigo, poder escrever pra mim.

Todas as lágrimas contidas durante um ano saíram de uma vez só! Afoguei-me em lágrimas durante dias, ardi nas chamas da rejeição, só então tive forças para responder a carta onde deixei bem claro que não queria ser amiga dele, não podia, e pedi-lhe o favor de nunca mais me procurar. Desejei-lhe todas as felicidades de mundo e disse adeus.

Seis anos depois o telefone toca e era ele, queria me ver, queria falar comigo.

Porque não? Pensei. O fato de que eu já estava namorando uma outra pessoa há algum tempo e que esta pessoa ia ser meu futuro marido não era motivo para não encontrar um velho amigo. Claro que meu namorado não gostou e claro que brigamos, mas eu não vi mal algum em encontrar-me com ele novamente, eu precisava deste encontro.

Ele chegou de mansinho, saudosista, gentil, disse que nunca gostou de ninguém como tinha gostado de mim, que sentia minha falta, que queria voltar e me namorar novamente.

Eu não tinha dúvida, eu não o queria mais, eu não gostava mais dele e tudo que ele tinha me feito sofrer já não importava mais. Ele foi embora triste e cabisbaixo e eu fui correndo telefonar para o meu namorado.

No outro dia eu saí com minha irmã para umas compras no centro da cidade, a sensação era de vitória, eu estava feliz por ter recusado aquela pessoa que tinha me desprezado, era como se eu tivesse vingado toda a dor que tinha sentido. Que idiota eu fui.

Há alguns metros de nós, dentro de uma pequena loja, lá estava ele acompanhado de uma mulher loira e grávida. Ficamos observando por um tempo, até que eles começaram a sair da loja e nesta hora eu avancei para alcançá-lo. Sorrindo parei bem na frente dele, e ele não teve como escapar. Com o rosto em chamas ele me apresentou sua esposa, grávida de quase 9 meses. Fui tão gentil e amável como não poderia ser jamais. Não pude deixar de parabenizar à esposa pelo bebê e pelo excelente marido dela, meu ex-colega de colégio.

Quando demos às costas e fomos embora, caímos na gargalhada. Que situação mais ridícula, de seminarista a sem vergonha, que diferença!

Anos depois ele me ligou novamente, uma semana antes do meu casamento.

Foi capaz de dizer que mesmo casado namorava e tinha uma vida diferente longe da mulher e dos filhos e que a única pessoa em que confiou, acreditou e gostou fui eu. Eu lhe informei que estava casando na próxima semana e que não achava que eu ficaria bem de chifres e que estava muito feliz por nosso namoro não ter dado certo e também que sentia muito pela esposa e pelos filhos dele.

A mãe dele com certeza tem razão em não me perdoar jamais, eu tirei um monstro do seminário e o joguei nas mãos de uma pobre mulher!


 







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