Quarenta anos morando em uma casa acumulam muitas recordações. Memórias de momentos maravilhosos, lembranças de momentos dolorosos. Tanto tempo morando em um mesmo lugar, lidando com as somas e as perdas de uma vida, nos levam a preservar pequenos fragmentos de memória em forma de objetos que nos são valiosos por sentimentos.
Quando eu me casei e fui embora, ficando quatro anos fora, sequer imaginava que voltaria e traria comigo meu marido, minha filha e teria aqui meu filho e que daquele dia em diante nós juntos continuaríamos a história da casa, a saga da família! Eu jamais poderia imaginar que meus filhos dormiriam no quarto em que eu dormi quando criança e que aqui, onde fui criada, criaria meus filhos.
São mais de 40 anos juntando LIXO!
Porque não há poesia para ver tanta porcaria guardada! A caixinha de madeira onde papai guardava pregos? A lixeira do quarto da mamãe? Camas que não são mais para dormir, bacias furadas, espetos de churrasco tortos, colchões velhos! Uma coleção de porcarias!
Não é nem questão de lembrança mais, é de ocupação de espaço inapropriado. Eu, definitivamente, não jogo nada fora. Além de chefes, eu coleciono lixo!
E é muito lixo. Coisas que eu já nem sei mais para o que servem porque só existem aqui em casa. Talvez eu possa montar um museu do lixo doméstico! Mas não, eu não farei isso. Sabem o que eu farei? Darei ao lixo o que é lixo! Já que estou reformando a área de lavanderia, vou reformar também a minha velharia e com isso, ninguém vai acreditar, eu vou ter mais um banheiro para usar e não mais um depósito de lixo. É verdade, eu tive coragem de fazer de um banheiro, depósito de lixo.
Triste falar em obras e ver tanta destruição no Rio de Janeiro. Eu sinto profundamente toda esta tristeza. O Rio é lindo, vai continuar lindo, após vencer mais esta tragédia.
Eu poderia mostrar mais lixo, mas eu tento ter vergonha na cara!
|