Mães têm um raciocínio lógico. Talvez não seja o mesmo tipo de raciocínio que o meu, mas eu gostaria de saber quem acha que eu tenho razão em meu raciocínio absoluta e logicamente lógico.
Em uma situação hipotética minha filha que aqui vamos chamar de Gabriella sai do serviço às 17 horas e diz que vai ao cinema. Chego em casa e por volta de 20H ligo pra ela que diz estar saindo do cinema e que vai pegar o metrô de volta pra casa.
Às 10H nada de Gabriella! Eu começo a pensar assim:
Aconteceu alguma coisa! Não tem como ela levar duas horas de metrô para chegar em casa! Será que ela sentou e esqueceu de dar sinal pro trem? Será que ela está esperando que motorista pare e abra a porta da frente pra ela entrar? Começa a minha agonia e resolvo ligar. Ligo uma, duas, três vezes para o celular que chama, chama e ela não atende! Ligo mais 47 vezes e nada! Eu quero que ela veja no celular que “Diaba” ligou 50 vezes! Eu que um dia já fui Mamis na agenda dela fui promovida a Diaba.
Começo a pensar que a confundiram com a Kate Middetlon e a sequestraram! Quem sabe algum psicopata a pegou e agora a está fatiando e fritando pra comer com angú? Ou a Al Qaeda resolveu vingar a morte de Bin Laden destruindo o metrô de BH? Quase pego no telefone para ligar pro Barack ou pro Jack Bauer!
Não entendo por que ela não atende ao telefone! Nunca vi a bateria do telefone dela acabar quando ela me liga pra pedir alguma coisa!
Já são 23H e eu já surtei umas 30 vezes de cabeça pra baixo!
O telefone residencial toca e eu não sei se corro para atender ou se entro em choque!
E se for Barack me dizendo que o metrô foi destruído? E se for a polícia? Não há remédio de pressão que segure a ansiedade, sinto que preciso de um abraço. O número é desconhecido então é melhor atender logo!
Vou tremendo para o telefone, medo! E se for o Charlie Sheen e eles agora são amigos? Quem quer o Charlie como amigo da filha? E se for o Lázaro Ramos em seu papel de macho alfa sedutor avisando que vai levá-la pra casa? Atendo o telefone.
Uau! Ela está viva! E está com o K na Savassi e vai voltar de taxi! A voz é de pura felicidade! Hãm? E eu? Eu quero dormir! É quinta-feira e na sexta ainda é preciso pelo menos ir ao local de trabalho! Dou até meia-noite para ela voltar pra casa.
Meia-noite, nada de Gabriella!
Eu paro para pensar e lembro que eu tenho um número registrado no telefone residencial, ótimo! É pra este mesmo que vou ligar! Eu ligo para o Barack, por que eu não ligaria para K? O problema é que eu não conheço K e K não me conhece, prazer K, mãe louca à deriva!
No meu relógio 20H são 20H, não 20H05M ou 21H! Só se a Gabriella em questão não sabe olhar as horas e aquilo que ela tem dependurado no pulso não é um relógio. Será que ainda dá tempo dela aprender a ver as horas?
Depois que eu liguei continuei sem conhecer K porque a ligação estava ruim, mas ele foi gentil o suficiente para me mandar uma mensagem dizendo que ela já estava chegando e eu fui esperar por ela na porta.
Não! De jeito algum eu ia dormir sem ganhar a briga! Ou perder!
Não há argumentos suficientes para que nesta história, mesmo que hipotética, os filhos entendam que mães se preocupam, piram, inventam histórias que só cabem na cabeça delas e sofrem porque temem que seus filhos não voltem pra casa e que só conseguimos descansar quando eles já estão em suas camas dormindo.
E isso tudo poderia ter acontecido em uma quinta-feira que precede o longo fim de semana de mais agonia! No fim de semana eu até entendo, tomo minhas bolinhas e vou dormir e ligo pra ela durante a madrugada. É certo que eu acordo só pra ver se ela está na cama.
Se tudo isso não fosse mentira eu entregaria a minha carta de demissão de mãe, porque pronta ela já está há anos, só falta entregar!
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